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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

A rosa e o raso

A rosa, necessitada de raízes fundas, colocou-se em um vaso raso.
Procura ficar imóvel pra não ser arrancada do centro do raso vaso.
Pode ser arriscado crescer lá, mas ela não liga.
O que importa é a alegria de ficar por lá até que ele suporte.
Ela entende que ele é raso porque escolheu ser assim, para que ninguém se apropriasse dele por muito tempo.
Dessa forma ele poderá cuidar e amar várias rosas e isso é bom.
É bem cuidada, bem regada, que até se enche de esperança de poder fixar-se mais profundamente.
Escolher vasos que não a cabe é  sua missão.
Mesmo sem pretensão ela os embeleza e fica feliz pelo tempo que conseguir crescer lá.
A rosa sabe que mesmo sem o compromisso eterno de cuidar dela, cantam, amam, regam e procuram ser bons.
No fundo, ela gostaria que eles, mesmo rasos, escolhessem as raízes profundas, e gostassem dessa contradição. 
Ela tem a experiência de viver confortavelmente em vaso profundo e aconchegante, que ama aprofundar-se mais para que ela se enraíze nele.
 Ser cuidada é bom e ela escolheu  crescer lá, pois sabe que só pode seduzir os vasos fundos, capazes de se deliciarem com suas raízes eróticas mais escondidas, gerando uma relação insaciável. Uma roseira inteira, pronta pra oferecer uma rosa nova a cada dia.
Mas vasos rasos são felizes com apenas uma rosa amarela. E isso é bom!




quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Jardim

Que vento trouxe você?
Chegou numa camiseta vermelha, bicicleta, árvore, cachos e cachoeira.
Com olhares, sorrisos e textos foi crescendo.
Vejo águas correntes, que respingam e assim fixaram-me um jardim.
Dele colho os espinhos e as flores que preciso.
Sou jardineira e agradeço suas gotas, sempre nascem mais árvores e bicicletas.
Sei que a água vai correr e nas bicicletas todas as árvores do jardim se vão.
Não importa se num dia somos árvores, outro bicicleta ou jardineiros
O importante é ser sempre melhor.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Passeio de domingo

Assim, rodando o dia, rodei em pensamentos sobre a roda da bicicleta.
Circulando, vi a poça d'água confirmando o ciclo.
Sobre meus ouvidos, o vento das estações espalhava as sementes, renovando o ciclo das plantas.
Todas firmes na Terra a girar para que nos dê o alimento próprio de cada estação.
Alimento que circula em minhas veias, enchendo-me de saúde, nutrindo meus ovários para que mais um ciclo renove o ninho do meu útero.
 Um êxtase veio então, dizendo que
sou cérebro,
sou água,
sou vento,
sou planta.
Eu sou ciclo e só paro de girar
quando Deus assim mandar.

igual

Homens,
Não nos digam frases como:
"Elas não sabem o poder que têm sobre nós."
Não queremos o poder de mandar em vocês.
Precisamos que reconheçam tudo que devemos fazer juntos
e assim nos sobre tempo para amá-los.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Superação

Parem!
Não me seduzirão
Não são atraentes
Não venham com propagandas, mapas, rotas definidas, conceitos acabados.
Minha carne grita quente, cheia de vida.
Não me seduzirão
Não são atraentes
Amam robôs
Preferem os rotulados

Inteligente seria apresentar-me seus frutos,
todos,
diversos
deliciosos ou não.

Eu iria até as árvores
estudaria vocês, por paixão
onde moram
como se alimentam
quais os cuidados

Sou superação
multiplicaria suas sementes
criaria novas formas pra  cuidar de vocês

Então superem-se
Não me seduzirão assim
Vocês não são atraentes

Seduzam-me!
Tragam-me seus frutos!
Superem-se!

Fui Visitar

Quase 23 anos
 Fui te visitar
matar a saudade
suprir-te
amar-te
Fui visitar o estuprador violentado
a mulher que esconde drogas na genitália da sua menina
todas as pessoas com pouca cultura
os lixos e sacolas jogados ao chão
os policiais estúpidos
prepotentes e arrogantes
os aidéticos que ali também eram discriminados
toda droga escancarada denunciando a corrupção
o grito dos protestantes tentando aparentar conversão
a violência da minha integridade na revistas
os pombos que serviam de alimento
a superlotação de gente e de maldade
o fim da saúde da minha mãe e a morte do meu pai
 a grande maioria negra denunciando a desigualdade
o fim do seu corpo e da sua mente.

A igreja foi meu tronco.

Mas também fui visitar a esperança de libertar- nos.
Fui visitar a vontade de lutar e debater toda desigualdade
até que todos passamos nos visitar.

Agora entendi

Cada dia amo-me mais
por ser fiel a quem não me ama,
por amar tantos
 e desejando
o que me rejeita.

Cada dia amo-me mais
 por avaliar-me a cada instante
 e ver-me tão pequena,
ignorante,
ignorável,
desprezível.

Cada dia amo-me mais
por odiar todo erro que há em mim,
Me ensinam  muito.

Mas hoje, nesse dia, pergunto-me
onde você foi meu amor?
Ao redor não te vejo,
no espelho nada vejo,
mas sinto naquele abismo,
que está lá.

Por não te encontrar
 é que procurei em outros lugares.
Achando que estava escolhendo,
ninguém me escolheu.
Fiquei sozinha comigo.

No meu deserto,
vi Seu amor,
vi meu amor

e cada dia amo-me mais...

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Como Cerrado

Grandes olhos azuis é seu céu sempre evidente.
Águas sensuais de pele fria,
de carícias que deslizam macias.
Troncos retorcidos
como cada homem desse planalto que precisa sobreviver.
Frutos nutritivos, variados e atraentes,
como a mente materna olhando o filho faminto,
por aqui mesmo se arranja.
Com uma chuva interna faz nascer em si a primavera.
Como o mosaico de cores que enfeitam os colares da moça
Seduzida, seduz o moço.

Cerrado é o que é,
Cerrado é o que somos,
Cerrado é nossa terra.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Agosto


A gosto do deserto de Brasília.
Deserto dos ventos que levaram minha alma.
Que esfriam a tapioca que aquece a tripa
Aquela arrancada pela dor,
Que arrancou os sentidos
Deserto de quem deserdou Eros.
Feliz de quem entende a que veio,
Verá o oásis
Depois de agosto vem a primavera!

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Lindo Pedaço de Mato









Seu brilho interno
mostra toda conexão
com o chão, com o ar e com a água.
Pássaro amante dos vôos longos
mas pronto pra voltar ao ninho
e alimentar a família.
Não importando se a pé, em duas ou quatro rodas,
o delírio é a liberdade.
Seu carisma está em deixar ser cuidado,
humildemente frágil,
aberto a dividir... o pão, a dor ou os prazeres.
Ainda não te conheço
mas percebo muita simetria.
E assim, sabendo bem do que gostamos,
desejo a você, que viva sempre
como um lindo pedaço de mato.
Gilmara, 2018